São os direitos que devem ser iguais ou as preliminares culturais aos quais ainda estamos acorrentados?Um tio meu inspirou-me neste segundo texto, quando me desejou de Natal: “minha sobrinha linda, espero que você encontre um namorado lindo, à sua altura, este ano”. Agradeci o pedido como um presente dado, mas, percebi que ele esqueceu de perguntar antes de me fazer qualquer gentileza: “o que você quer para este ano?”. Isso acontece. Aliás, a família é alvo de diversos clichês divertidíssimos, que eu, obviamente observo, analiso e potencializo em texto. Mas, vamos ao assunto que proponho nesta coluna tribal.
Porque o homem quando deseja ficar sozinho é visto como sinal de amadurecimento pessoal e a mulher quando escolhe estar sozinha é vista como alguém solitária e triste? Será que a mulher não tem real poder de escolha, em definitivo? Volto a usar meu exemplo para um auto-teste convincente aos meus novos leitores. Eu já namorei muito, confesso, mas, de um modo diferente de todas as meninas que conheço, eu nunca gostei de namorar “em casa”, como as pessoas costumam dizer.
Até hoje, apenas um ex-namorado meu foi apresentado “oficialmente” à minha família. E me arrependi! Como uma grande amiga uma vez me disse: “se eu pudesse, eu só envolveria família nos meus relacionamentos no altar!”... Imagine, caro leitor, a situação: “Fulano, este é meu pai, aquela ali chorando é minha mãe... Ah! Sim, aceito!“ ... Seria engraçada uma cena dessa, mas, brincadeiras à parte, eu volto a minha observação do início do texto.
Desde o ano passado, eu resolvi não me envolver em romances profundos com ninguém, a fim de fazer uma grande “faxina” na minha vida pessoal e, ao mesmo tempo, dar mais atenção aos meus amigos e, por conseqüência, ter mais tempo para o auto-conhecimento. Profundo isso? Sim, mas não deixa de ser verdadeira a questão de que quando estamos inseridos em um relacionamento mais sério, sem perceber, abdicamos de nós mesmos, a fim de conhecer mais do outro. E, muitas vezes, em vão!
Ficar solteira por opção, sendo mulher, não é para qualquer uma, definitivamente. É preciso coragem, paciência, alguns calmantes (legais ou ilegais) e muita disciplina. “Disciplina?” – interrogará meu amigo leitor – Sim. Pois, por razões desconhecidas, quando nos propomos a algo que requer sacrifício pessoal, as “tentações” aparecem querendo nos fazer mudar de idéia e, por isso, a disciplina é fundamental. Mas, eis que chega um instante que a família, principalmente os mais próximos e íntimos, começam a cobrar e questionar a filha, sobrinha, prima, neta, o porquê dela(s) não apresentar(em) um “pretendente”.
Imagine, meu caro leitor, eu sentar com meu tio para explicar a ele que não é falta de homens, mas opção minha estar “solteira”. Ele não entenderá como algo sincero mas, provavelmente, como uma justificativa para minha situação. É estranho, mas ainda temos um “ranço” cultural que não enxerga a mulher como alguém que pode querer, desejar, almejar e deliberadamente, escolher o que realmente quer para a própria vida.
Algum leitor ainda vai questionar: “Com que análise ela chega a uma conclusão como essa?” – Simples. Sou de uma família onde sou a única mulher, além de minha mãe, cuja geração e educação a fez totalmente passiva a voz masculina. Não a critico. Fases e tempos diferentes. Mas vejo em meu pai e irmãos, a cobrança de uma “menina” mais “lady” e menos “livre”. Independência intelectual perturba os homens de minha família, com toda certeza!
Não estou fazendo qualquer levante feminista ou sendo radical ao achar que sempre seremos mal compreendidas, mas, utilizo desta vez minha coluna para iniciar uma discussão saudável sobre os lugares comuns de nossa cultura, como a questão de igualar a mulher às condições profissionais masculinas, mas, paralelamente, ainda se mantém um certo inconsciente cultural depreciativo quando a decisão é simplesmente estar “só”, em termos de relacionamento amoroso.
Curtir os amigos, ter apenas rápidos “affairs” e ganhar dinheiro se faz mais presente em minha atual organização de valores e metas que a idéia de casar e ter filhos, por exemplo. Nada absolutamente contra as que fazem da segunda opção citada seus respectivos objetivos imediatos de vida, mas, devo admitir que quando coloco na balança, compreendo que se tratando de seres humanos, pensantes e capazes de distinguir seus sexos, além de emotivamente ativos, a motivação principal será sempre a tão falada busca da felicidade, do “nirvana”, do ponto “G’!
De tribo em tribo, eu vou procurando meu alvo central na multidão e, se terei que lutar impulsivamente pelas minhas escolhas, então espero que o desejo de Natal do meu tio se converta a meu favor! A divergência continua até eu terminar este texto. A ambigüidade do assunto especulado permanece e eu ainda nem terminei de escrevê-lo. O tempo passa. E homens e mulheres ainda terão eternas complexidades e, mesmo assim, terão mais homens e mulheres querendo fazer a diferença nesse estado cultural pseudo-livre. Chegamos lá! Ainda sou otimista e solteira por opção, é claro!
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